25/02/11

Entrevista ao Engº. Paulo Pinheiro

Depois de um period de tempo sem entrevistas, eis que Blog Motors and World News entrevista agora o Engenheiro Paulo Pinheiro, CEO do Autódromo Internacional do Algarve, e um dos principais responsáveis por pôr de pé não só o autódromo, como também o kartódromo e o parque tecnológico adjacentes. Além destes projectos que por si só enchem de orgulho os desportos motorizados portugueses, Paulo Pinheiro foi também um dos responsáveis por “erguer” a competitiva equipa Parkalgar-Honda, do Mundial de Supersport.


Eis a entrevista:

1 - Antes de mais, como se "iniciou" no mundo dos "motores"?
Desde sempre fui um amante de desportos motorizados, tendo começado nos karts em 1985 e depois em 1991 passei para as motos, na classe de superbikes. Desde que me lembro que esta foi sempre  a minha grande paixão.

2 - Como surgiu a ideia de levar a cabo uma obra como o Autódromo Internacional do Algarve, principalmente numa situação de crise como a que vivemos?
A génese da ideia surgiu da constatação de que a sul do país existia uma lacuna ao nível deste tipo de infra-estrutura. E assim, em 2001, comecei a colocar no papel as ideias que, há já algum tempo vinha “alimentando”. Por outro lado, a percepção de que não havia, na região do Algarve, grandes alternativas ao segmento Sol e Mar, alavancou ainda mais a ideia de que um projecto desta envergadura viria contribuir para uma diversificação e acréscimo da procura turística na região, a qual viria contribuir para atenuar a tendência de sazonalidade da procura turística. O início da crise coincidiu precisamente com o início da execução da obra mas, graças a uma equipa jovem, motivada, e com a ajuda dos nossos parceiros conseguimos fazer face às dificuldades que fomos encontrando.

3 - Quais os maiores "entraves"/dificuldades para a construção e financiamento do Autódromo?
As maiores dificuldades foram fazer as pessoas acreditar no projecto: da sua viabilidade e do seu interesse para a região e para o país.

No início deparei-me com algum cepticismo por parte de algumas entidades mas penso que é normal, pois era algo completamente novo. Mas aos poucos o projecto foi captando interesse e credibilidade até que se tornou realidade.


4 - Nestes cerca de 2 anos e meio de autódromo qual o balanço que faz, em termos de taxa de ocupação, campeonatos e testes disputados, etc.? As expectativas iniciais estão a ser correspondidas?
Dois anos após a abertura ao público, o balanço é deveras positivo: o AIA recebeu nove provas de Campeonatos Internacionais, nomeadamente Campeonato do Mundo de Superbike (3 edições), A1GP, Le Mans Series  (2 edições), FIA GT (2 edições) e GP2, WTCC, Race of Champions, Superstars, International Gt Open para além de, por duas vezes, ter recebido a Fórmula Um para testes. Foi elogiado por todo o mundo pelos melhores pilotos mundiais como: Michael Schumacher, Lewis Hamilton, Fernando Alonso, Troy Bayliss, Ben Spies entre muitos outros.
O AIA foi nomeado “Motorsport Facility of the Year” pelo ‘Professional Motorsport World Expo Awards 2009” que anualmente premeia as melhores equipas, personalidades, tecnologias e infra-estruturas do mundo automobilístico, entre muitas outras distinções, pela sua qualidade e modernidade. Temos uma ocupação média sempre superior a 85% o que é excelente pelo que o balanço para já é muito positivo.


5 - Dos campeonatos que o AIA tem acolhido, qual considera mais importante de segurar?
Todos eles são importantes, sem bem que o Campeonato do Mundo de Superbike, pelas mais variadas razões, é aquele que nos dá mais gozo e mais prazer receber:
Por um lado por  a Organização ter acreditado em nós desde o primeiro momento. Em 2008, as obras tinham acabado dias antes e parecia utópico que a final de um Campeonato de Mundo de SBK pudesse realizar-se, mas acreditaram e nós e, nas duas edições seguintes, demos mostras que vale a pena continuar a apostar na realização desta belíssima prova no nosso circuito.
Por outro lado, é o campeonato onde corre a equipa da casa, Parkalgar Honda, e o nosso piloto, Miguel Praia, o único português a disputar este campeonato.
Gosto muito também do FIA-GT.

O balanço tem sido muito positivo, e em 2011 irá realizar-se a quarta edição.

6 - No seguimento da pergunta anterior, dos eventos já acolhidos, qual o que lhe interessa mais pessoalmente, em termos de espectáculo?
Pelas razões acima apontadas, é sem dúvida o WSBK.

7 - Qual o ponto de situação actual do autódromo? Para 2011, qual a taxa de ocupação prevista?
Este ano, contrariamente aquilo que se poderia esperar temos uma taxa de ocupação muitíssimo satisfatória. Desde apresentações automóveis, sessões de fotografia para catálogos, aluguer de pista para testes, provas, track days e eventos corporate, não poderíamos estar mais satisfeitos. A taxa de ocupação ronda, até ao momento, os 90%.

8 - Para o futuro, quais os grandes objectivos do autódromo? Moto GP e Fórmula 1 estão ao alcance nos próximos anos?
Conforme referi há pouco, a situação económica não está a ajudar e a vinda da Formula 1, em particular, implica um forte investimento, não só do circuito mas do próprio Estado pelo que, para já, é algo que está fora do nosso alcance. Claro que esse é o sonho de qualquer circuito. Mas vamos continuar a trabalhar e quem sabe? MotoGP, está no Estoril e está muito bem!

9 - Em relação ao Kartódromo, está a corresponder às expectativas em termos de ocupação?
Sim, o Kartódromo é uma aposta ganha. Desde o primeiro dia que o público aderiu muito bem. O traçado da pista é muito elogiado e as pessoas têm sido muito receptivas.
Em 2010, recebemos a prova de referência da modalidade, o WSK Series e o evento foi um verdadeiro sucesso. Para além disso, recebemos o troféu Rotax e a Taça de Portugal de Karting. Para além disso, tem siso usado, em complemento ao AIA, para realização de testes de pneus, apresentações, entre outros eventos.       

10 - Em termos de AIA Racing School, como funciona? A procura ao serviço tem correspondido às expectativas?
A Racing School, pela especificidade e pela novidade do produto tem correspondido plenamente às expectativas. O facto de reunir viaturas de gama alta como Porsches, Ferraris, BMW a pilotos profissionais faz desta escola de pilotagem uma escola de sucesso.
Entre os produtos disponíveis temos Track days moto (Aluguer do circuito para uso particular, para motos), Track days auto (Aluguer do circuito para uso particular, para automóveis), Escola de condução defensiva e Taxi experience moto e auto.


11 - Também adjacente ao autódromo há o parque tecnológico. Qual a evolução esperada para o parque nos próximos anos?
Este é um equipamento de particular importância no complexo.
Nesta fase, encontram-se fechados dois acordos: está prevista o início de construção uma unidade fabril, que a outra, destinada à produção e transformação de carros desportivos de competição é a N. Technology, empresa italiana, que desenvolve o seu trabalho na área da engenharia automóvel, e que conta já com uma vasta experiência a nível de carros de turismo, rali e GT. Desde sempre ligada a grandes marcas, como a Porsche, a N. Technology tem em mãos, neste momento, a concepção e desenvolvimento da versão de corrida do último modelo daquela marca, o Panamera S, embora as negociações ainda não estejam fechadas.
O Parque Tecnológico terá as mais modernas infra-estruturas técnicas de apoio, criando assim condições para que os futuros utilizadores, nas áreas da pesquisa e desenvolvimento, possam funcionar em estreita relação com o circuito.
A relação entre o circuito e o Parque Tecnológico revela-se muito útil aos construtores de automóveis, motos, pneus, combustíveis e lubrificantes, na medida em que, todo o trabalho de pesquisa e desenvolvimento, poderá ser testado no circuito, em tempo real, com baixos custos e com a discrição muitas vezes necessária.

No entanto, o Parque Tecnológico está aberto a outras áreas de negócio, pelo que se poderão aí sediar empresas ligadas por exemplo às energias renováveis ou a qualquer outra área da inovação empresarial.

12 - Falando da equipa Parkalgar, começo por perguntar o porquê de ser uma equipa de motociclismo. A ideia do motociclismo foi a única, ou chegou a colocar a hipótese de ser uma equipa de automobilismo?
Nós temos a equipa, desde 2006, numa fase em que era crucial credibilizar o projecto além fronteiras o que foi atingido plenamente! Nos automóveis, apoiamos diversos pilotos aos longo dos anos, Pedro Lamy, Tiago Monteiro, Filipe Albuquerque, a equipa Ocean, entre outros, mas nunca equacionamos até agora ter uma equipa nossa.

13 - Como vê o desenvolvimento e o ponto de situação da equipa Parkalgar nas Supersport? Está a evoluir como esperado, ou esperava-se algo mais nesta altura?
No início deste projecto, em 2006, ninguém colocava a hipótese de a equipa vir a estar na luta pelo Mundial. Na altura era perfeitamente compreensível que tal se questionasse, pois na altura era quase utópico. Era a equipa mais pequena de todo o paddock, apenas com o Miguel Praia como piloto e uma carrinha de apoio, enquanto que todas as outras equipas se apresentavam com orçamentos astronómicos e camiões Tir tipo F1. Mas nunca nos deixamos intimidar e sempre acreditamos que também chegaríamos lá. E chegamos, não só em 2010 mas também em 2009. E não fosse o trágico acidente que vitimou o Craig Jones em 2008, a equipa teria certamente feito história desde então. A Parkalgar Honda é actualmente uma das equipas mais “temidas” e mais respeitáveis do paddock do Mundial de Supersport e nada tem a ver com o orçamento que disponível por época, porque esse continua a ser reduzido se comparado com outras estruturas.
Respondendo à sua questão, a equipa está a evoluir melhor até que o esperado, considerando o nosso percurso, já que o ano passado até obtivemos o recorde de vitórias numa época (8).

14 - Os pilotos da Parkalgar têm sido todos britânicos ou irlandeses, à excepção do Miguel Praia. Há alguma razão em especial para a escolha, ou é mera coincidência?
Também já tivemos pilotos americanos Josh Hayes e italianos Simone Sanna, mas realmente apreciamos muito o espírito combativo e o profissionalismo dos pilotos ingleses.

15 - Na sua óptica, o que tem impedido o Miguel Praia de ser tão competitivo como os colegas de equipa?
O facto de ter começado em campeonatos internacionais, 10 anos depois de qualquer outro dos pilotos que está na grelha com ele. Convém não esquecer que em 2005, após apenas uma época e meia no estrangeiro, fez duas provas em Portugal, e ganhou ambas com larga vantagem. É de longe o melhor piloto de motos de todos os tempos em Portugal.

16 - Como lidou a equipa com o falecimento de Craig Jones nas circunstâncias conhecidas? Foi difícil de gerir a situação na equipa? Alguma vez foi equacionada a extinção da equipa devido ao trágico acontecimento?
Como se costuma dizer, o que não nos mata torna-nos mais fortes, e penso que o trágico acidente do Craig nos deu força para continuarmos. Ele iria gostar que assim fosse.
Em nenhum momento consideramos o fim deste projecto. Pelo contrário, achámos que devíamos levá-lo mais além, embora tenha havido um momento muito difícil, e ai o apoio da família do Craig foi fundamental.
Em homenagem ao Craig o AIA tem uma curva com o seu nome.

17 - Para concluir, que mensagem deixa aos seguidores de automobilismo em Portugal, bem como aos seguidores das infraestruturas do AIA?
Aos seguidores do automobilismo e motociclismo deixo o convite para virem assistir às provas, pois elas são feitas para o público, e é o público que ajuda a que cada prova seja um sucesso.

Aos seguidores das restantes infraestruturas, gostaria apenas de dizer que gradualmente, o Algarve Motor Park está a crescer e  a tornar-se o maior parque de desportos motorizados do país.

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